Um homem chorou do meu lado no ônibus
Sou mulher e tenho 36 anos. Na quarta-feira passada, por volta do meio-dia, eu estava voltando para casa depois de ter feito umas compras no centro, e me sentei em um assento do ônibus. Pouco tempo depois um homem pardo, de estatura mediana, barba bem feita e vestido com roupa social, sentou-se ao meu lado. Parecia ter por volta de 30 anos, pelo pouco que observei dele. Vi quando ele passou as mãos nas próprias coxas, parecia um pouco tenso, mas nada que me chamasse muita atenção.
Poucos minutos depois eu ouvi um pequeno soluço sufocado. Olhei de soslaio e suas mãos já não estavam mais nas coxas, e sim nos olhos. Ele tremeu um pouco. Vi que estava chorando. Tentei fingir indiferença mas era visível que ele estava sofrendo. Pensei mil vezes se devia ou não começar a conversar com ele, mas infelizmente a vergonha falou mais alto. Não dirigi nenhuma palavra a ele, não perguntei se ele queria conversar. Nada. Anos e anos tentando evitar conversas com estranhos me levaram a esse lugar: eu queria falar qualquer coisa pra ele, oferecer uma água, sei lá. Mas me contive. Era como se a mão invisível das convenções sociais tivesse pousado no meu ombro e me dito: "não se meta".
Sinceramente eu não sei o que um homem pensaria de uma mulher desconhecida vendo o sofrimento dele e oferecendo uma água e uma conversa. O que eu vou fazer na próxima vez que algo assim ocorrer? As pessoas andam tão adoecidas mentalmente e eu mesma tenho minhas noias... Tudo o que eu queria era saber se o homem pardo da barba bem feita está bem. Mas você sabe como são os ônibus. Você pode ver uma pessoa hoje e depois nunca mais.