Viajei para a Argentina e essas são minhas conclusões
Boa tarde, pessoal.
Este é meu primeiro post nessa comunidade e nesta rede em geral.
Viajei para a Argentina em Dezembro/24, fiquei bastante curioso com algumas coisas e quero conversar sobre elas. Fui primeiro para Bariloche, e depois para Buenos Aires.
Vou separar os assuntos em subtítulos para facilitar a leitura.
Preços
Acho que é o primeiro assunto que todo mundo está querendo saber agora. E em resumo, sim, a Argentina está cara. Bastante cara, na verdade.
Comprei as passagens em Agosto de 2024, e reservei Airbnb no mesmo mês. Estava decidindo se iria para alguma praia, ou se faria uma viagem internacional, mas os preços estavam bastante semelhantes, e eu nunca havia saído do país, portanto optei por essa experiência.
Dito isso, não lembro exatamente quanto paguei pelas passagens e estadia, mas creio que no total deve ter saído em volta de 6.000 reais, que rachei com minha namorada, então cada um pagou cerca de 3.000 reais, para passar 10 dias lá. Achei ok.
Meu erro foi não ter comprado dólar nesse momento. Mas também, como eu saberia? Deixamos para comprar dólares mais perto da viagem, e acabamos comprando tudo acima de 6 reais. No total, comprei 880 dólares.
Enfim, o baque começou quando chegamos no aeroporto de Buenos Aires para fazer a escala, e uma garrafinha de água de 500ml estava custando 2.500 pesos. Na nossa conversão, cerca de 15 reais por uma água. Até então eu ainda estava confiante de que esse era o custo de aeroporto, mas comprei mesmo assim, e tentei me convencer de que os preços estariam melhores quando fôssemos a um super mercado.
Vou tentar ser sucinto para passar à discussão que realmente quero chegar: as coisas não estavam baratas no super mercado. Na verdade, estavam bem caras também.
Garrafas de coca-cola por 2.800 a 3.200 pesos, queijo por 4.000, até bolachas recheadas estavam por mais de 2.000 pesos. Cerveja longneck ou lata por cerca de 3.000 pesos também. Tudo isso imaginando que a conversão de pesos é tipo, 1.000 pesos = 1 dólar (mais ou menos).
Em restaurantes, meu deus.
Alguns restaurantes tinham menu executivo por 14.000 pesos. Era um pedaço de carne (normalmente frango) com batatas fritas, e um refrigerante de uma marca deles lá (que não lembro o nome). Alguns eram Pepsi. Notem que este era o preço mais baixo que encontramos em Bariloche para um almoço normal. E isso em baixa temporada. Fomos no Boliche de Alberto, e a conta ficou em mais ou menos 56.000 pesos. Comemos um hamburguer em outro restaurante, por 18.000 pesos.
Sobrevivemos na maioria dos dias à base de empanadas, que custavam 3.000 pesos num restaurante perto de casa. Pedíamos duas pra cada, com um refrigerante, e tava tudo certo.
Em Buenos Aires, a situação não era muito diferente. As empanadas estavam um pouco mais baratas numa promoção em uma lanchonete perto do apartamento, e comemos umas 4 vezes por lá (tinham pizza também, por 7.000 pesos, o que foi a primeira coisa que achei "barata", mas não era tão boa). Engraçado que fomos uma vez, e o preço era um, e fomos lá dois dias depois, e ja tinham reajustado o preço. A pizza estava 9.800 pesos. Enfim, achei curioso.
Enfim, deu para entender que as coisas estavam caras, certo?
E isso é o que quero discutir.
Muitos vão argumentar que está caro para nós, porque o real se desvalorizou muito. Mas vamos supor que estivesse sei lá, 4 reais para cada dólar. Agora multiplique por todos os preços que mencionei aqui. A maioria dos preços continua alto, segundo nossa percepção em relação ao Brasil, não? Por exemplo, uma garrafinha de água estaria 10 reais, enquanto aqui no Brasil, é cerca de 2,50. Um hamburguer estaria 72 reais, preço de Madeiro, outback, etc. Mas ok, ainda é pagável. Com o dólar a 6 reais dói mais mesmo.
Mas a grande questão, e a que realmente importa é: qual é o poder de compra do argentino em relação a estes preços? Lembrando que o salário mínimo da Argentina é de 272 mil pesos (até a data deste post). O do Brasil era de 1.412 reais.
Então fiz bastante conta com todas as coisas que vi por lá, e vamos a algumas delas:
Almoço:
Argentina: Menor preço de menu executivo que achamos foi de 14.000 pesos. 272/14 = 19,4.
Ou seja, você compra 19 menus executivos com o salário mínimo argentino.
Brasil: Em São Paulo, você encontra menus executivos de vários preços, mas em vários lugares, eu diria que a média é de 40 reais: 1412/40 = 35,3.
Quase o dobro de refeições.
Eu fui fazendo essa conta várias vezes, e acho que não encontrei UMA vez em que o poder de compra do salário mínimo argentino baseado nos preços atuais é maior do que o do Brasil.
Cerveja longneck:
Argentina: 3.000 pesos. 90 cervejas com um salário mínimo.
Brasil: 6 reais. 235 cervejas com um salário mínimo.
Big Mac no McDonalds:
Argentina: 7.600 pesos. 35,7 big macs com um salário mínimo.
Brasil: 26,90 reais. 52,4 com um salário mínimo.
Café expresso em cafeteria:
Argentina: 3.000 pesos. 90 cafés por s/m.
Brasil: 8 reais. 176,5 cafés.
Sei lá, podem continuar essa lista com uma variedade de itens, e a conclusão sempre parece ser que o poder de compra no Brasil ainda é superior ao deles.
Quando em face do poder de compra de um americano ou europeu, aí é um passeio. É até injusto comparar. Mas mesmo eles estão considerando a Argentina cara. Vi alguns gringos comentando que estavam se sentindo pobres por lá.
Existem até alguns jornais na Argentina que noticiam que um produto nacional (uma peça de roupa) é vendido a cerca de 200 dólares mais barato no Chile do que na própria Argentina, sendo que no Chile eles importam. (E a moeda dos dois países é quase 1:1).
No geral, me parece que não é exagero nenhum dizer que a Argentina está cara. Tem até argentino saindo de lá pra comprar no Brasil, porque coisas como tênis da Nike são mais baratos aqui do que por lá (e são mesmo).
Tem muita gente falando que eles estão passando por um milagre econômico, mas não foi o que pareceu a princípio. Talvez as coisas melhorem lá com o tempo, mas por enquanto, tá tudo muito caro, e todos os centros de compra estavam bem vazios. Tinha muito turista nesses lugares, e eu via pouca gente realmente comprando coisas.
No entanto, fiquei muito surpreso positivamente com outras coisas de lá.
Sociedade
Cara, a Argentina é um lugar que me pareceu extremamente seguro, limpo, tranquilo, e definitivamente muito bonito.
Fiquei até surpreso com isso, porque quando os índices oficiais do país demonstram que 52% das pessoas estão abaixo da linha de pobreza, você espera que as coisas sejam meio... Sei lá, caóticas, sujas, desorganizadas.
No entanto, não é o caso da Argentina. Andamos por lá na região de Palermo a noite, e nunca me senti tão seguro. Até os locais devem pensar assim, pois tinham vários andando por lá, alguns passeando com o cachorro, outros andando de bicicleta. Uma vida muito tranquila, no geral. Não achamos muito lixo pelas ruas, e nem nos parques.
E nisso, me veio um pensamento: não é necessariamente a pobreza que deve levar ao aumento de criminalidade, então. Porque temos muito menos pobreza relativa do que o Argentino, mas conseguimos favelar quase o Rio de Janeiro inteiro, e várias áreas de São Paulo. Na verdade, é difícil você achar uma região de São Paulo que seja completamente bonita. Todas tem algum defeito, seja uma calçada quebrada, uma pichação na parede, um lixo jogado no chão, buraco no asfalto, um poste caído, mato no asfalto, sei lá, várias coisas. Nada aqui em São Paulo é consistentemente bonito, sempre tem alguma coisa pra lembrar que ainda estamos nesse país de terceiro mundo. A criminalidade no Brasil inteira é alta, e a desculpa é sempre a pobreza, falta de assistencialismo e tal. Voltei de lá com uma ideia diferente. Acho que é cultural mesmo. O brasileiro parece ter essa mentalidade de querer coisas mais fáceis, aí acabam cedendo à criminalidade. E isso se estende a outras coisas também, como trabalhos mal feitos, falta de planejamento urbano, falta de conscientização sobre a limpeza e preservação da cidade e do meio ambiente. Parece que aqui estamos cagando pra tudo.
Por lá, eles realmente se importam com a preservação da cidade e do ambiente. Não utilizam sacolas plásticas, e em vários lugares públicos, vimos a descrição de que as ciclovias eram pintadas com tintas ecologicamente sustentáveis. Quase não tinha lixo nas ruas, parques, etc. Havia muito respeito com a coisa pública, no geral.
E também, achei os argentinos muito mais politizados do que no Brasil. Várias bandeiras argentinas em todos os lugares, algumas manifestações políticas escritas em bancos de praça, ou em cartazes em paredes, e tal. Acho que no Brasil nunca senti esse senso de comunidade. E também, fica difícil, porque parece que o brasileiro não quer o bem dos brasileiros, somente o seu próprio bem. Não somos patriotas, somos egoístas. Não nos preocupamos com a coisa pública, ela que tem que nos servir apesar de nossa falta de respeito e de senso. Porque afinal, estamos pagando, né?
No geral, achei que a Argentina tem muito mais potencial de bom crescimento do que o Brasil. Consigo vê-los dando certo algum dia, mas não sinto o mesmo em relação ao Brasil.
O que acham? Acham que temos jeito? Têm algum exemplo de situação que os faça ter esperança nesse país? Eu realmente gostaria de ouvir coisas positivas sobre nós, para ver se consigo acreditar que isso aqui vai dar certo.
Desculpem pelo textão, mas espero que alguém leia.
Obrigado!